O cenário era de alta tensão em 28 de agosto de 1961. O então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, correu para o porão do Palácio Piratini e fez um pronunciamento improvisado para uma rádio montada pela equipe. “Hoje, nesta minha alocução, tenho os fatos mais graves a revelar. O Palácio Piratini, meus patrícios, está aqui transformado em uma cidadela que há de ser heroica (...),” declarou ele, pedindo resistência até o fim. Esse momento crucial ajudou a consolidar a figura de Brizola (1922 - 2004) na história do Brasil. Segundo especialistas, ele evitou um golpe militar em 1961 através de uma rede de rádios.
Análise Histórica
Leonel Brizola Neto, neto do ex-governador e responsável pela liberação das imagens para o documentário, busca perpetuar o legado do avô através de uma associação cultural. Segundo ele, Brizola tinha uma compreensão clara da ameaça de ruptura democrática. "Naquela época, não havia a facilidade das informações que temos hoje. Ele entendeu a situação e começou a organizar a resistência. Todos os atos de Brizola foram sempre dentro da legalidade democrática," afirma.
Leonel Brizola, que faleceu há 20 anos, continua sendo uma referência para a luta democrática no Brasil. Seu legado de resistência e defesa da legalidade democrática permanece relevante e inspira novas gerações na busca por justiça e direitos sociais.
Frustração
O professor Adriano de Freixo afirma que Leonel Brizola estava preparado até para o confronto armado, se necessário. “Como ele mencionou em alguns depoimentos, sua intenção era marchar para o Rio de Janeiro, dissolver o Congresso – que considerava conivente com a tentativa de golpe – e garantir a posse de João Goulart”, explica Freixo. A aceitação de um regime parlamentarista provisório por Jango foi uma grande decepção para Brizola.
Essa frustração ocorreu em um contexto político complexo. Pesquisadores da época apontam que havia um grande apoio popular à posse de Jango em 1961. O sociólogo Yago Junho, que também estuda a trajetória de Brizola, destaca que o então governador do Rio Grande do Sul ganhou a opinião pública ao entender a importância da comunicação.
“A batalha política é, em essência, uma batalha das
comunicações. Com mais de 70% da população apoiando Jango, Brizola queria efetivamente
promover mudanças. No entanto, a conciliação prevaleceu, adiando o golpe por
apenas três anos”, analisa Junho. Os estudiosos concordam que, embora Brizola
fosse habilidoso, ele não previa que Jango cederia às pressões dos militares.
Legados
Os pesquisadores destacam que a infância pobre de Brizola no Rio Grande do Sul foi determinante para suas escolhas políticas. Governador de dois estados – Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro – Brizola sempre defendeu o trabalhismo e os direitos garantidos pela Consolidação das Leis do Trabalho, conforme analisa Yago Junho.
Para Adriano de Freixo, Brizola é uma das figuras públicas mais significativas da segunda metade do século XX.
Leonel Brizola Neto, neto do ex-governador, busca dar mais visibilidade ao legado do avô, além do documentário já em produção. “Estamos trabalhando para digitalizar todos os registros e disponibilizá-los online para que as pessoas possam acessá-los e pesquisá-los”, diz Brizola Neto.
Ele lembra do avô não só como político, mas também como um
homem disciplinador, que valorizava a pontualidade e gostava de compartilhar
histórias em reuniões familiares. “Recordo dele me ensinando a fazer orçamento
doméstico e até plantando bananeira em casa. Ele era muito forte”, conclui o neto.